domingo, 25 de maio de 2008

SEDUÇÃO








Pequenina semente vi surgir
No riso da menina, qual ternura,
De uma planta tão bela quanto pura
Que a solidão mandava descobrir.

À minha mão, manteve conduzir
A grandeza da frágil criatura.
Impossível conter essa loucura
Que, num gesto de amor, pude sentir.

Tocou minha alma a alma da menina
E, ali, junto ao meu corpo, de repente,
Notei glorificado tanto ardor.

Do sorriso inocente, a pequenina
Mostrou-me o conteúdo da semente
Explodir, na beleza dela, a flor.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Traze-me - Cecilia Meireles





Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo - esperança!
-Vê que nem sequer sonho - amor!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Menina do Céu




Deus criou um anjo especial
E pôs o puro amor em seu abraço;
Em seu olhar a vastidão do espaço;
E em seu sorrir, ternura sem igual.

Todo o carinho que Ele quis mostrar
Atribuiu às mãos angelicais;
Deu-lhe perfume e voz celestiais;
Ela personifica o verbo amar!

Tirou suas asas, mas seu coração
Ganhou vislumbres de outra dimensão
Na intuição chamada "feminina"...

Toda mulher é qual anjo encarnado,
Representando o divinal cuidado;
Da criação de Deus é a obra- prima!

sábado, 3 de maio de 2008

AMANHÃ


Amanhã

Amanhã! - é o sol que desponta,
É a aurora de róseo fulgor,
É a pomba que passa e que estampa
Leve sombra de um lago na flor.

Amanhã! - é a folha orvalhada,
É a rola a carpir-se de dor,
É da brisa o suspiro, - é das aves
Ledo canto, - é da fonte - o frescor.

Amanhã! - são acasos da sorte;
O queixume, o prazer, o amor,
O triunfo que a vida nos doura,
Ou a morte de baço palor.

Amanhã! - é o vento que ruge,
A procela d'horrendo fragor,
É a vida no peito mirrada,
Mal soltando um alento de dor.

Amanhã! - é a folha pendida.
É a fonte sem meigo frescor,
São as aves sem canto, são bosques
Já sem folhas, e o sol sem calor.

Amanhã! - são acasos da sorte!
É a vida no seu amargor,
Amanhã! - o triunfo, ou a morte;
Amanhã! - o prazer, ou a dor!

Amanhã! - o que val', se hoje existes!
Folga e ri de prazer e de amor;
Hoje o dia nos cabe e nos toca,
De amanhã Deus somente é Senhor!

(Gonçalves Dias)