domingo, 11 de abril de 2010

SERENIDADE


Acordar e ser um dia. Ser um dia, como outro dia, só mais um dia.
Acordar e pensar o que fazer desse dia. E compreender que se vive muito mais por dentro do que por fora, sempre.
E o que se vive por fora vive-se sempre de um impulso que vem de dentro.
Compreender isto e perceber a inutilidade desta compreensão.


Acordar e ser um dia. Ser um dia, como outro dia, só mais um dia.
Acordar e sair para a rua. Mergulhar na luz solar, de olhos bem abertos
Ansiando pela profunda cegueira azul.
Compreender que tudo se passa em segundos. E segundos depois,
A rua é a mesma, as casas são as mesmas, tudo é o mesmo.
Nada mudou.
Compreender isto e perceber a inutilidade desta compreensão.


Acordar e ser um dia. Ser um dia, como outro dia, só mais um dia.
Acordar e lançar-se de garras afiadas sobre os livros, seduzir a poesia
Pelas horas matinais, procurar o grande amor das palavras.
Viver esta paixão louca. E olhar lá para fora. E ver um dia. Só mais um dia.
E compreender que nada mudou.
Compreender isto e perceber a inutilidade desta compreensão.

Acordar e ser um dia. Ser um dia como outro dia, só mais um dia.
Fechar os olhos. Entrar no sonho. Sentir-te ao meu lado. O teu cheiro.
O sabor da tua pele. O calor da tua presença. A ternura do teu olhar.
Um sonho. Não acordo. E nada muda.
E não quero compreender nada.

Há uma suspensão azul sobre as nossas almas.
E um desígnio de cores nos nossos dias.


Acordo e vejo o cinzento. Como posso ver outras cores mascaradas.
E volto-me na cama, para o lado de dentro do mundo.
A verdade está no olhar, sempre. A verdade está sempre no que os olhos dizem,
Porque é nos olhos que vive a palavra que falta sempre.
Acordo e vejo o cinzento. Posso vê-lo dias após dias.
Olho para o céu dentro de mim e compreendo
A suspensão azul nas nossas almas
O desígnio de cores nos nossos dias.

E não preciso compreender mais coisa alguma.
Dentro vive a palavra que falta. No sangue. Na alma. No destino

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